O cérebro do corrupto é diferente dos demais?
Participei do World Congress on Brain, Behavior and Emotions 2017, que se realizou em Porto Alegre de 14 a 17 deste mês, para atualização em declínio da cognição, que é o meu foco de atuação profissional neste momento, no tocante as novidades em diagnósticos e tratamentos.
Além dos assuntos referentes à área da memória, que é do meu interesse, baseado em estudos da neurociência, este Congresso sempre traz assuntos inusitados como inveja, amor, paixão pelo futebol e outros afins, procurando explicações para o comportamento humano, seu entendimento e possível tratamento.
Neste ano houve alguns temas muito interessantes como por exemplo: “O que seu cérebro tem a ver com suas inclinações políticas: As bases neuroevolucionárias, morais e psicológicas da preferência partidária” e “Violência contra a sociedade: Bases do comportamento imoral e corrupto” no qual se avaliou o cérebro dos corruptos, assunto este já adiantado pela reportagem da Revista Isto É, da semana anterior e da qual baseamos o presente artigo.
Respondendo a nossa pergunta, segundo os estudos atuais da ciência, o cérebro do corrupto é sim, diferente. O gosto pela corrupção se desenvolve nas mesmas estruturas neuronais, na região pré-frontal, onde cristaliza o vício pelas drogas, álcool ou pelo sexo. Concluindo: corromper dá prazer e vicia.
Segundo nos diz Dr. Vitor Haase, neurologista e professor da UFMG, “No córtex frontal, as reações primárias são submetidas a um juízo crítico e moral formado segundo as regras civilizatórias vigentes. Lá são moduladas por variáveis como o que certo ou errado ou as consequências que podem surgir. Nos corruptos, assim como em quem mata para roubar, este filtro ético e moral que nos separa dos animais, não funciona. São movidos pelo impulso, pela procura do próprio prazer e pela inconsequência. São psicopatas, mostrando-se insensíveis aos males que causam”.
Podem até condenar os mesmos crimes cometidos por outros, porém são incapazes de se autoavaliarem e se autocondenarem, achando que o que fazem é absolutamente normal, não importando as conseqüências maléficas destes atos nefastos no prejuízo de tantas pessoas. O que interessa é somente seu lucro pessoal.
A maneira como operam tem a ver com a genética, mas principalmente com o meio ambiente. Isso quer dizer que em uma sociedade menos tolerante à corrupção e meios eficazes de punição servem como moduladores importantes no fortalecimento deste filtro ético e moral, o que infelizmente não é o caso do nosso país, inundado pelo lodo fétido da corrupção.
“Se as pessoas aprendem que corromper não leva a conseqüências negativas, não trazendo prejuízo para si, dando-lhe prazer e em sua credulidade não é moralmente errado, o córtex não tentará inibir o comportamento” nos ensina o Dr. Antoine Bechara professor da University of Southern Califórnia, USA em sua entrevista e em sua brilhante aula.
A esperança é que com novos estudos cerebrais, punição exemplar aos culpados, fiscalização intensa e esclarecimentos a população, talvez possamos em um futuro próximo ter esta mudança em nossos cérebros, que levou milhares de anos para se aperfeiçoar, nos diferenciando dos animais na ética e na moral, com tolerância zero à corrupção.
Dr. Luiz Antonio Sá
Fontes: Revista Isto É – edição de 14/06/17
World Congress on Brain, Behavior and Emotions 2017
Entrevista com os palestrantes
Muito interessante…só assim encontramos explicação para o que vem acontecendo hoje com um número considerável de pessoas….parabens
Ótimo artigo.. realmente o maior problema é que para esses corruptos desviar “um pouquinho”, já que tem tanto dinheiro entrando, é normal, e eles são totalmente incapazes de se autocondenarem…
Perfeito, mas como bem disse Dr. Luiz, apesar da genética, o principal fator é ambiental, neste caso, se os corruptos não são capazes de se autocondenar, nossa esperança é que a justiça o faça. Com tudo, me pergunto, se a ciência já é capaz de identificar tais problemas neurológicos, porque este conhecimento não é usado de forma preventiva em prol da comunidade? Apesar de todos os dilemas morais, muitas empresas baseiam suas contratações em análises e testes psicológicos, porque somos condescendentes ou aceitamos que nossos governantes sejam escolhidos sem quaisquer garantia ou teste de sua capacidade?
Parabéns Dr. Luiz e obrigado por partilhar este conhecimento.
Muito bem tratado o assunto, até porque visceralmente nos atinge a todos e será que, no final das contas, somos nós que financiamos toda essa corrupção, mesmo que inconscientemente, até mesmo reproduzindo um comportamento semelhante, insensíveis à ética, onde também não nos autopunimos? Talvez esse seja o preço de uma sociedade que exige que as pessoas sejam bem-sucedidas, tendo como sinônimo ser rico, poderoso, com a cultura do ter em detrimento de ser.
Prezado Doutor Luiz Antonio da Silva Sa!
Parabenizo-lhe pelo artigo desenvolvido por V. S. Onde esclarece aos brasileiros a doenca epidemica que se instalou no Planalto Central e esta disseminado pelo Pais!
Grato,
Flavio Zunta
Muito bom Sá, parabéns. Frequentar congressos de outras áreas acrescenta muito ao conhecimento médico.
Parabéns Dr. Luis pelo excelente explicacão do Artigo, gostei muito.