A Memória é física?
É motivo de controvérsia definir se processos mentais, como a memória, são físicos, químicos ou de que natureza. “Eles se utilizam do cérebro, mas não se originam nele”, afirma o professor Setzer.
“Assim, uma lesão cerebral pode afetar alguns desses processos, pois afetou a participação e não a origem”, explica Setzer.
Uma evidência que reforça a ideia de que a memória não é física é o fato de ela ser infinitamente expansível. “Ninguém jamais teve a vivência de querer memorizar um número de telefone ou o nome de uma pessoa e não haver mais ‘lugar’ para isso. Baseado nisso, vários neurocientistas estão começando a admitir que a memória é ilimitada. Nesse caso, ela não pode ser física.”
Mas não há consenso, sobretudo quando as explicações partem de áreas diferentes do conhecimento humano.
“No sentido de ‘mais neurônios’ provavelmente a memória não é física, mas há variações genéticas que causam variações na memória episódica, a memória de eventos autobiográficos, entre indivíduos”, afirma Leão.
“A memória depende de variáveis neurobiológicas, portanto físicas e hereditárias, mas também influenciada por diferentes fatores ambientais e emocionais”, diz a psicóloga Camila Cruz Rodrigues, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Segundo a professora, há diferentes tipos de memória.
“Em relação ao tempo de armazenamento, existe a memória de curto prazo e a memória de longo prazo”, detalha. “A memória de curto prazo dura até 30 segundos e tem uma capacidade limitada de quantidade de informações a serem armazenadas, já a memória de longo prazo tem potencial para ter duração permanente e ilimitada na quantidade de informações.”
Rodrigues ressalta que, independentemente do tipo de memória, seu mecanismo ocorre em três etapas:
- Armazenamento
- Consolidação
- Evocação das informações
Estudioso dos processos de cognição, o médico Rodrigo Duprat defende que a memória “nada mais é do que uma conversa química entre os neurônios”.
“Ou seja: a memória é um processo físico, porque depende de uma porção de substâncias neurotransmissoras.”
É por isso que, segundo Duprat, a capacidade de memorizar depende de aspectos hereditários – mas também pode ser aprimorada. “Essas características vêm da genética, mas também da forma como o cérebro é estimulado”, afirma.
“A memória depende de fatores biopsicossociais, portanto é influenciada por inúmeros fatores. Entre eles, a atenção e a emoção, que podem aumentar ou diminuir a capacidade de memória”, acredita a psicóloga Rodrigues.
“Além disso, as estratégias mnemônicas utilizadas pelas pessoas podem auxiliar na memória.”
Transcrito de Edison Veiga Colaboração para o UOL, em Milão (Itália) em 11/11/2018